sábado, 26 de outubro de 2013

Ao ritmo de Obikwelu


Finalizado o 1° dia de visita a Moscovo, regressámos ao hostel a fim de carregar malas e rumarmos a Saint Petersburgo às 22h10. [Regressaremos mais tarde a Moscovo a fim de terminar a visita.]

No caminho, parámos numa mercearia a fim de comprarmos qualquer coisa para o jantar e acabámos por nos perder no tempo com o rapaz que nos atendeu. É incontornável... perante a resposta "Portugal", a associação com Cristiano Ronaldo é imediata e as pessoas sorriem-nos com apreço, num jogo incessante de palavras em redor desse desporto tão universal que é o futebol. "Figo", "Nuno Gomes", "Rui Costa", "Benfica", "Porto"... E inicia-se, assim, uma relação inter-cultural. Engraçada a facilidade com que nos ligamos a algo ou alguém que nos transporta para um campo conhecido ou favorável. 
De sorriso constante, revelou-nos que havia sido jogador de futebol profissional mas, devido a uma lesão no joelho, ficara afastado dos campos.
Observei as horas e vi a janela do tempo fechar-se consideravelmente. Precisávamos de ir... Despedimo-nos, com a promessa de voltar daí a uns dias, e rumámos ao hotel com o intuito de organizarmos as malas.
Viajar com quatro malas é, de facto, intransigente! Confesso que venho, com o tempo e com as viagens, apurando o meu sentido mais prático. No entanto, e perante as temperaturas praticadas que oscilam entre os 15° e os -20°C, confesso que não me foi fácil aplicar os conhecimentos desenvolvidos. Assim sendo, entre roupa, fatos da neve, sacos cama, necessaire e comida... Temos quatro malas. Prioridade imediata: pedir para deixar duas delas no hostel até ao nosso regresso e levar para St. Petersburgo o indispensável.
Pedido feito, pedido aceite :-)
Organizámos as malas, deixando as restantes no hostel e partimos em contra relógio a caminho da estação. Cerca de 30min era o que nos restava para chegar à estação, ou melhor, ao nosso comboio. Nem mais um minuto - pensei - que os relógios daqui devem ter pouco dos de Portugal...
Fomos em passo acelerado os cerca de 15min que nos separavam da estaçao de metro e descemos, já, as escadas em modo corrida. À chegada à plataforma avistamos as portas do metro encerrarem-se e percebo que teremos de esperar pelo próximo. 
O relógio marca as 21h54. Respira, Ana Raquel - tranquilizo-me - tens outro metro em menos de 3min. E pouco mais de 2min depois, avisto as luzes de uma nova toupeira. Respiro de alivio. Encontrávamo-nos agora à distância de duas estações. 5min depois, eis o destino. Rompemos as portas por entre a multidão e corremos com toda a velocidade em direcção à saída.
Cruzo as portas , olho para a esquerda e avisto as locomotivas suburbanas. Não, direita - penso - e contorno todo o edifício do metro. Do outro lado da rua, avisto a estação... corro na direcção do túnel e atravesso-lo com as poucas forças que me restam. 
Finalmente nas plataformas, busco no ecran gigante o número do nosso comboio, mas sem êxito. Perante a falta de tempo que nos resta, decido perguntar em redor pelo comboio para St. Petersburgo. Entre encolheres de ombros, o mais próximo que tive de uma conversação foi um "I don't speak english!" 
Olho em redor e percebo que estamos na estação errada. Grito para o Marco que tentava encontrar a plataforma correcta e corremos, uma vez mais, na direcção do túnel  com vista ao lado oposto onde se encontra a estação pretendida. Isto, porque, entre as três grandes estações existentes em Moscovo, encontram-se aqui, lado a lado, duas delas. Sendo que, uma das quais, se subdivide, ainda, em duas grandes sub-estações: uma suburbana e outra de longo percurso. Confusão na certa, portanto.
Atravessamos o túnel e sinto o corpo fraquejar-me... Estou exausta! Peço ao Marco para não esperar a fim de avistar o número da plataforma e exijo-me um último esforço. Entro na estação, o Marco grita-me o número da plataforma e lançamo-nos na luta pela medalha dos 100m. Avisto o controlo de malas (o controlo por RaioX é constante aqui na Rússia - entre estações de comboio, correios, museus e afins) e peço, ao segurança, por favor, para que nos deixe passar. Ele manda-me contornar o controlo e corro enquanto lhe grito um "Thanks a lot". Em redor vejo as pessoas acenarem-nos para irmos rápido, zelando para que cheguemos a tempo. 
Entramos na dita plataforma e avisto o início da linha vazia, contendo, porém, ao fundo um comboio parado. Será aquele? - interrogo-me. Questiono os seguranças dentro da cabine que me apontam para a dita linha, sem que a mesma se encontre no seu campo de visão. Chamo um deles para que me aponte com exactidão o destino final, mas o mesmo não se move. Perante a minha insistência, levanta-se, por fim, e ao meu apontar ao comboio que se avista ao fundo, abana a cabeça, surpreendido, em sinal de negação. Aponta-me para a linha vazia e leio no seu gesto seguinte um "Já partiu...". 

Sem nós, portanto... 


Ao fundo o relógio marca as 22:11:31




10 comentários:

  1. Aiiii... Estava aqui aos pulos a imaginar a cena toda, convencida que iriam apanhar o comboio a tempo... Para além de vos imaginar no meio da estação a exclamar em bom português "oh f*****!". E depois que fizeram???

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    1. Tu, nós, o segurança, os passageiros dos outros comboios... acho que todos pensávamos o mesmo! :) Enfim... Chegámos ao destino, é isso que realmente importa!

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  2. Racovksy e Marcotroytsky...estou estafado só de ler as vossas correrias! Só vocês...tenho moderadas saudades :)

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    1. Sr. Anónimo, preciso que se identifique ;) Ainda que as moderadas saudades o denunciem em jarda ;) Beijo grande cheio de saudades

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  3. Boas camaradas.

    Então voçês passam por mim e nem me reconhecem? :)
    Tenho a impressão de ter sido o "chinoca do aeroporto", o "ébrio que vos ajudou a encontrar o hostel", "a malta encostada na melancolia e consequentemente zangada pelo som estridente da campainha", o "fotografo voyeurista", o "segurança da estação que vos deixou passar", "o segurança da cabine que encolheu os ombros", entre tantos outros.
    Mesmo longe, tenho a impressão que vivi tudo isso! Será que não somos todos malas de viagem? Estou convencido que no âmago temos saudades de nós próprios, e é nesse sentimento que reside o ciclo partir-voltar-partilhar! Obrigado pela viagem.
    Divirtam-se à grande e em último caso já sabem que uma garrafa de whisky dos bons custa 50€!!! :)>

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    1. E se te tenho encontrado por aqui, Vitrúvio... ;) Somos sim... Simples malas de viagens que buscam, no seu âmago, o que a vida tem de melhor. Seja lá isso o que for...
      Quanto mais viajo, mais compreendo a sua pequenez... ainda assim, guardo nela o mundo!!! Talvez por isso me fosse impossível carregá-la sozinha... Talvez por isso, a melhor viagem seja sempre a de regresso!
      Vamo-nos encontrando... Tu por aqui, eu por aí...

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  4. Grande shit... Mas tu és uma vencedora por natureza. Pode ver-se pelo facto de teres feito uma descrição espectacular de uma desventura! Sem sequer vestígio de azedo (pelo menos no texto não se nota). Confesso que já estava a ressacar das aventuras Marco-Raquelianas!!! Por cá acumulam-se as saudades e as coisas para te contar...
    Beijinho à escritora e grande abraço ao fiel companheiro!

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    1. Não posso negar que numa primeira instância somos sempre assombrados por uma desilusão imensa... Mas logo a seguir damo-nos conta do quão ridículo pode ser esse sentimento.
      Há gente que sonha com esta viagem uma vida inteira... eu própria sonhei com ela tantas vezes... Estou aqui...nada mais importa já...
      Saudades tuas, Pereirinha...

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  5. Nada acontece por acaso meus queridos! Mais histórias advirão daí, acreditem!
    Força até ao final da meta!

    Raquel não pares de escrever, isto é viciante!Parece que estou ai convosco=)

    Beijo enorme para os dois!!!

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    1. Sem dúvida... é aqui que nos damos conta da insignificância das coisas menos boas perante a grandeza do melhor da vida.
      Agora a meio da viagem... porque o tempo voa..
      Não parece, estás mesmo... estás sempre comigo... onde quer que eu esteja!

      Beijaoooooooooo

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